27.10.09

O céu dos dias bons

céu sobre o Sado, 25 Outubro 2009

20.10.09

Fall-Winter 2010


Uns Práticos outros Contemplativos

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Têm sentido de humor os que têm sentido prático. Quem descuida a vida, embevecido numa ingénua contemplação (e todas as contemplações são ingénuas), não vê as coisas com desprendimento, dotadas de livre, complexo e contrastante movimento, que forma a essência da sua comicidade. O típico da contemplação é, pelo contrário, determo-nos no sentimento difuso e vivaz que surge em nós ao contacto com as coisas. É aqui que reside a desculpa dos contemplativos: vivem em contacto com as coisas e, necessariamente, não lhes sentem as singularidades e características; sentem-nas, pura e simplesmente.
Os práticos - paradoxo - vivem distantes das coisas, não as sentem, mas compreendem o mecanismo que as faz funcionar. E só ri de uma coisa quem está distante dela. Aqui está, implícita, uma tragédia: habituamo-nos a uma coisa afastando-nos dela, quer dizer, perdendo o interesse. Daqui, a corrida afanosa. Naturalmente, de um modo geral, ninguém é contemplativo ou prático de forma total, mas, como nem tudo pode ser vivido, resta sempre, mesmo aos mais experimentados, o sentimento de qualquer coisa.
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Cesare Pavese in O Ofício de Viver

19.10.09

Os dias bons


Ninguém Sabe Coisa Alguma

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Porque nós não sabemos, pois não? Toda a gente sabe. O que faz as coisas acontecerem da maneira que acontecem? O que está subjacente à anarquia da sequência dos acontecimentos, às incertezas, às contrariedades, à desunião, às irregularidades chocantes que definem os assuntos humanos? Ninguém sabe, professora Roux. «Toda a gente sabe» é a invocação do lugar-comum e o inimigo da banalização da experiência, e o que se torna tão insuportável é a solenidade e a noção da autoridade que as pessoas sentem quando exprimem o lugar-comum. O que nós sabemos é que, de um modo que não tem nada de lugar-comum, ninguém sabe coisa nenhuma. Não podemos saber nada. Mesmo as coisas que sabemos, não as sabemos. Intenção? Motivo? Consequência? Significado? É espantosa a quantidade de coisas que não sabemos. E mais espantoso ainda é o que passa por saber.
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Philip Roth in A Mancha Humana


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6.10.09

Amália

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Que posso eu dizer de ti cuja voz é grandeza sublime? Essa que habita o espaço entre o abismo e o céu incalculável e que se abre como uma grande asa de luz. Que posso eu dizer de ti senão ouvir-te e dessa forma ouvir o mar, o tempo, o sol nas janelas, o silêncio, as sombras?
És hoje aquilo que deste e no esplendor da tua voz mora o que todos são e serão até ao fim dos tempos.
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Grito


Letra de Amália Rodrigues / Música de Carlos Gonçalves