29.5.10
26.5.10
Inquietude
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Há ainda mais inquietude no ar. Parece que se está no começo de uma nova era, no levantar de uma onda, numa grande mudança. Mas talvez seja apenas a inquietude de que tudo nos escapa, que estamos realmente suspensos, à deriva no espaço, sós ...
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Há ainda mais inquietude no ar. Parece que se está no começo de uma nova era, no levantar de uma onda, numa grande mudança. Mas talvez seja apenas a inquietude de que tudo nos escapa, que estamos realmente suspensos, à deriva no espaço, sós ...
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20.5.10
19.5.10
Os Portugueses
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A arte em Portugal não tem a ver com a vida. O museu e o espectáculo são coisas que se passam em lugares fechados, com horário e um culto feito em grande parte de snobismo e de obrigação social. Daí o grande desconforto dos artistas em Portugal, uma espécie de marcianos, porque aquilo que fazem não tem nada a ver com os interesses da sociedade. Em Itália. o cidadão mais humilde tem uma intuição, um conhecimento e uma veneração pela arte que aqui terá talvez o equivalente na veneração pela Nossa Senhora de Fátima. Até coincide porque é a veneração por um desconhecido, pelo que está para além da razão. Se não houvesse motivos exteriores, não creio que fizesse falta a quem quer que fosse ir a exposições de pintura, ao teatro ou à ópera.
Há um egoísmo perfeitamente catastrófico que caracteriza os portugueses. No seu dia-a-dia, desde que tenha resolvido o seu problemazinho e possa comer o seu bifinho com batatas fritas ou o seu bacalhauzinho, já tira dai um prazerzinho que o deixa satisfeito. O Eça usou todos esses diminutivos com razão, porque tudo é pequeno, da dimensão ao espírito. Satisfazem-se com pouco.
Outra característica dos portugueses é ter medo do risco, podem cair no ridículo, que fica muito mal. Ora para fazer grandes coisas, é preciso arriscar cair do trapézio. Mas os portugueses preferem trabalhar com rede ou então a um metro do chão. Os Descobrimentos foram uma necessidade porque essa gente que vinha do Norte do Pais, a cair de fome e a morrer pelo caminho, não tinha outra hipótese. E não esqueçamos os mercenários. Os relatos deixam-nos imaginar o tormento daquelas viagens, com doenças e sem comida, em condições de puro desespero. Depois, lá veio a mitificação histórica. Obviamente haveria alguns, poucos, a começar pelo infante D. Henrique, que teriam o seu projecto de alargar a Terra, de chegar a qualquer lado e de tirar lucro, que é o que faz correr o homem. O Camões diz textualmente, n’Os Lusíadas, que «nunca houve nação, nem bárbara, que prezasse tão pouco as artes como a portuguesa». E o padre António Vieira dizia, naquelas etimologias divertidas, que o mundo é mundo porque, por antífrase, é imundo tal como a Lusitânia se chama assim já que não deixa luzir ninguém por causa da inveja. E podíamos continuar com o Eça, com o António Nobre, com os que reflectiram porque tiveram oportunidade de comparar... (...).
Vivi na Alemanha muitos anos e pude constatar que o mito do amor ao trabalho dos Alemães é falso. Não gostam de trabalhar, mas sabem que e preciso. Por isso, fazem-no o mais eficientemente possível. Durante o trabalho, os alemães não conversam sobre futebol nem as alemãs falam de meninos, como aqui. E fora dele é tabu falar sobre isso. Ao contrário de Portugal, onde se passa o almoço a falar do trabalho, uma paranóia perfeita.
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Alberto Pimenta (excertos - Diário de Notícias - Janeiro 1995)
13.5.10
11.5.10
A Loucura é uma Destilação Decisiva
Nestes séculos, o escritor tem mantido uma conversa com a loucura. Podemos quase dizer que o escritor do século vinte aspira à loucura. Alguns conseguiram-no, evidentemente, e ocupam lugares especiais na nossa consideração. Para um escritor, a loucura é uma destilação decisiva do eu, uma edição decisiva. É o submergir das vozes enganadoras.
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Don DeLillo in Os Nomes
8.5.10
7.5.10
6.5.10
Qual é a pergunta fundamental?
Vive-se o tempo de todos os tempos. O disco roda tão rápido que parece parado. Todas as cores nele impressas tornam-se brancas na velocidade. Desaba lentamente o castelo de cartão flutuante. As pessoas seguem-no com o olhar, expectantes. Qual é a pergunta fundamental? O que devo questionar agora? O que devo dizer? Viemos de tão longe. Chegámos de tão perto. Temos o mundo inteiro num pequeno fruto simplificado e ao mesmo tempo disperso, complexo, à deriva. Chegámos ao fim de uma era, mas afigura-se que chegámos tarde, porque o começo ou o recomeço de qualquer coisa parece não estar nas nossas mãos, mas algures. Para onde seguiremos? Está iminente um outro tempo mas não um novo tempo.
Mas temos que prosseguir, mesmo sem respostas. E ainda no campo de explosão, a vida segue, presa pelas pequenas coisas. A alegria que não quer morrer, a esperança no próximo passo, na nova descoberta. Aqui no mundo que temos, na vida que temos, cada um de nós.
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5.5.10
4.5.10
Sombras Rosas Sombras
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Debaixo de um céu estrangeiro
sombras rosas
sombras
por sobre terra estrangeira
entre rosas e sombras
dentro de uma água estrangeira
minha sombra
Debaixo de um céu estrangeiro
sombras rosas
sombras
por sobre terra estrangeira
entre rosas e sombras
dentro de uma água estrangeira
minha sombra
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Ingeborg Bachmann
2.5.10
Portugal, algumas as perguntas
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Será que vamos continuar à espera como quem espera pelos pais à porta da escola? Do que é que se espera? Será que é agora que saberemos o que fazer deste país? Saberemos quem somos? Saberemos encontrar o nosso lugar no mundo, no futuro? O que é isso de "cumprir Portugal"? Estamos sempre a repensar, sempre a começar, a adiar. De onde vem essa inabilidade para concretizar? Saberemos ser uma nação como uma árvore com nome, raiz, ramos, folhas e frutos? Saberemos nos harmonizar para não ruirmos?
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