29.1.14

o amor

 "Tudo o que sabemos do amor, é que o amor é tudo o que existe."

Emily Dickision

27.1.14

a day in the life

I read the news today oh, boy
About a lucky man who made the grade
And though the news was rather sad
Well, I just had to laugh
I saw the photograph
He blew his mind out in a car
He didn't notice that the lights had changed
A crowd of people stood and stared
They'd seen his face before
Nobody was really sure if he was from the house of lords

I saw a film today oh, boy
The english army had just won the war
A crowd of people turned away
But I just had to look
Having read the book
I'd love to turn you on.

Woke up, fell out of bed
Dragged a comb across my head
Found my way downstairs and drank a cup
And looking up, I noticed I was late
Found my coat and grabbed my hat
Made the bus in seconds flat
Found my way upstairs and had a smoke
And somebody spoke and I went into a dream
Ah

I read the news today oh, boy
Four thousand holes in blackburn, lancashire
And though the holes were rather small
They had to count them all
Now they know how many holes it takes to fill the albert hall
I'd love to turn you on

The Beatles - A day in the life

23.1.14

dois pecados capitais


"Existem dois pecados capitais, dos quais todos os outros derivam: impaciência e indolência. Por causa da impaciência os homens foram expulsos do paraíso, por causa da indolência eles não voltam. Mas talvez só exista um pecado capital: a impaciência. Por causa da impaciência eles foram expulsos, por causa dela eles não voltam."

Franz Kafka, Aforismos

20.1.14

Palavras


"Palavra dentro da qual estou a milhões
de anos é árvore.
Pedra também.
Eu tenho precedências para pedra.
Pássaro também.
Não posso ver nenhuma dessas palavras que
não leve um susto.
Andarilho também.
Não posso ver a palavra andarilho que
eu não tenha vontade de dormir debaixo
de uma árvore.
Que eu não tenha vontade de olhar com
espanto, de novo, aquele homem do saco
a passar como um rei de andrajos nos
arruados de minha aldeia.
E tem mais: as andorinhas,
pelo que sei, consideram os andarilhos
Como árvore."

in O fazedor de amanhecer - Manoel de Barros

19.1.14

o céu de Inverno na ilha de Herberto


irmãos humanos que depois de mim vivereis


irmãos humanos que depois de mim vivereis,
eu que fui obrigado a viver dobrados os oitenta,
fazei por acabar mais cedo vossos trabalhos cegos,
porque nestas idades já não nunca,
nem leituras embrumadas,
nem crenças, nem política das formas, nem poemas no futuro, nem
visitas extraterrestres de mulheres
exorbitantemente
nuas, cruas, sexuais, luminosas,
só vê-las um pouco, sim, mas vê-las também cansa,
é como trabalhar: stanca,
lavorare stanca,
queríamos tanto acreditar no milagre isabelino do pão e das rosas,
e só tínhamos que perder a alma,
hoje talvez eu mesmo acreditasse melhor, mas foi-se tudo,
enfim esses jogos gerais, ao tempo que se esgotaram!
livros, je les aí lus tous, e como de costume a carne é insondável,
estou mais pobre do que ao comêço,
e o mundo é pequeníssimo, dá-se-lhe corda, dá-se uma volta,
meia volta, e já era,
irmãos futuros do gênio de Villon e do meu gênero baixo,
não peço piedade, apenas peço:
não me esqueceis só a mim, esquecei a geração inteira,
inclitamente vergonhosa,
que em testamento vos deixou esta montanha de merda:
o mundo como vontade e representação que afinal é como era,
como há-de ser: alta,
alta montanha de merda — trepai por ela acima até à vertigem,
merda eminentíssima:
daqui se vêem os mistérios, os mesteres, os ministérios,
cada qual obrando a sua própria magia:
merda que há-de medrar melhor na memória do mundo

Herberto Helder in Servidões, 2013

12.1.14

o Inverno no país de Georg Trakl...

                                                                                         Áustria

Canção nocturna


Hálito da imobilidade. O rosto de um animal
Congela de azul, a sua santidade.
O silêncio na pedra é tremendo.

A máscara de um pássaro nocturno. Um trítono
Suave funde-se num só. Elai! * O teu rosto
Dobra-se mudo sobre a água azulada.

Oh! Espelho silencioso da verdade.
Na têmpora de marfim solitário
Surge o reflexo dos anjos caídos.

*Elai ( aramaico ): meu Deus. Segundo o Novo Testamento,
 Jesus clamou na cruz nesta língua: “ Meu Deus, meu Deus,
 porque me abandonaste? “

poema de Georg Trakl (1887 / 1914)

11.1.14

Paisagens Humanas, onde os humanos estão ausentes

                                                   lembram-nos Anselm Kiefer  (@Niwaki)

9.1.14

Sentido

"O que nós procuramos, ao nível mais profundo, é assemelhar interiormente, mais do que possuir fisicamente, os objectos e lugares que nos tocam através da sua beleza." Alain de Botton

8.1.14

Metropolis

Behind the scenes of Metropolis, 1925

NOVO ANO

Eu desejaria que o Novo Ano trouxesse no ventre morte, peste e guerra. Morte à senilidade idealista e à retórica embalsamada; peste para um certo código cultural que age sobre os grupos e os transforma em colectividades emocionais; guerra à recuperação da personalidade duma cultura extinta que nada tem a ver com a cultura em si mesma. 

Eu desejaria que o Novo Ano trouxesse nos braços a vida, a energia e a paz. Vida o suficientemente despersonalizada no caudal urbano para que os desvios individuais não sejam convite ao eterno controlo e expressão das pessoas; energia para desmascarar o sectarismo da sociedade secularizada em que o estado afectivo é mais forte do que a acção; paz para os homens de boa e de má vontade. 

(31 de Dezembro de 1979) 

Agustina Bessa-Luís in 'Caderno de Significados'

5.1.14

O mundo e a nossa vida possível


Toda a vida é achar-se dentro da «circunstância» ou mundo. Porque este é o sentido originário da idéia (mundo). Mundo é o repertório das nossas possibilidades vitais. Não é, pois, algo à parte e alheio à nossa vida, mas que é a sua autêntica periferia. Representa o que podemos ser; portanto, a nossa potencialidade vital. Esta tem de se concretizar para se realizar, ou, dito de outra maneira, chegamos a ser só uma parte mínima do que poderíamos ser. Daí que nos parece o mundo uma coisa tão enorme, e nós, dentro dele, uma coisa tão pequena. O mundo ou a nossa vida possível é sempre mais que o nosso destino ou vida efectiva. 

Ortega y Gasset in A Rebelião das Massas