23.12.09

Poema de Natal


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Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

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Vinicius de Moraes in Antologia Poética, 1960

16.12.09

25th July 1953: Frank Sinatra dava uma entrevista no seu apartamento em Londres.
Publicação original: Picture Post - He Keeps On Crooning - pub. 1953
(Fotografia de Ronald Startup/Picture Post/Getty Images)
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A foggy day in London Town
Had me low and had me down
I viewed the morning with alarm
The British Museum had lost its charm
How long, I wondered, could this thing last?
But the age of miracles hadn't passed,
For, suddenly, I saw you there
And through foggy London Town
The sun was shining everywhere.
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15.12.09

Cold Day

Marilyn Monroe, 1955
Fotografia de Michael Ochs Archives/Getty Images

27.11.09

The Wreck Buoy de Joseph Mallord William Turner, 1849

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Os mesmos erros

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Mesmo um exame superficial da história revela que nós, seres humanos, temos uma triste tendência para cometer os mesmos erros repetidas vezes. Temos medo dos desconhecidos ou de qualquer pessoa que seja um pouco diferente de nós. Quando ficamos assustados, começamos a ser agressivos para as pessoas que nos rodeiam. Temos botões de fácil acesso que, quando carregamos neles, libertam emoções poderosas. Podemos ser manipulados até extremos de insensatez por políticos espertos. Dêem-nos o tipo de chefe certo e, tal como o mais sugestionável paciente do terapeuta pela hipnose, faremos de bom grado quase tudo o que ele quer - mesmo coisas que sabemos serem erradas.
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Carl Sagan in O Mundo Infestado de Demónios

19.11.09

Os Dias Bons ( correio dos leitores)

Melanie Griffith e Don Johnson, 1976.

recebido por e-mail de Manuel do Ó Pereira


18.11.09

Os Dias Bons

Lana Turner e John Garfield
Fotografia de Walter Sanders, LIFE, 1945
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É Preciso Procurar uma Só Coisa para Encontrar Muitas

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Desaparecido o fervor de uma monomania, falta uma ideia central para dar significado aos momentos interiores esparsos. Em suma, quanto mais o espírito está absorvido por um humor dominante, mais a paisagem interior se enriquece e varia. É preciso procurar uma só coisa, para encontrar muitas.
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Cesare Pavese in O Ofício de Viver
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12.11.09

Os dias bons


O Vazio da Pressa e do Dinamismo

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A pressa, o nervosismo, a instabilidade, observados desde o surgimento das grandes cidades, alastram-se nos dias de hoje de uma forma tão epidémica quanto outrora a peste e a cólera. Nesse processo manifestam-se forças das quais os passantes apressados do século XIX não eram capazes de fazer a menor ideia. Todas as pessoas têm necessariamente algum projecto. O tempo de lazer exige que se o esgote. Ele é planeado, utilizado para que se empreenda alguma coisa, preenchido com vistas a toda espécie de espectáculo, ou ainda apenas com locomoções tão rápidas quanto possível. A sombra de tudo isso cai sobre o trabalho intelectual. Este é realizado com má consciência, como se tivesse sido roubado a alguma ocupação urgente, ainda que meramente imaginária. A fim de se justificar perante si mesmo, ele dá-se ares de uma agitação febril, de um grande afã, de uma empresa que opera a todo vapor devido à urgência do tempo e para a qual toda a reflexão — isto é, ele mesmo — é um estorvo. Com frequência tudo se passa como se os intelectuais reservassem para a sua própria produção precisamente apenas aquelas horas que sobram das suas obrigações, saídas, compromissos, e divertimentos inevitáveis.
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Theodore Adorno in Minima Moralia
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4.11.09

Os dias bons

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Visita-me Enquanto não Envelheço

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visita-me enquanto não envelheço
toma estas palavras cheias de medo e surpreende-me
com teu rosto de Modigliani suicidado
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tenho uma varanda ampla cheia de malvas
e o marulhar das noites povoadas de peixes voadores
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ver-me antes que a bruma contamine os alicerces
as pedras nacaradas deste vulcão a lava do desejo
subindo à boca sulfurosa dos espelhos
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antes que desperte em mim o grito
dalguma terna Jeanne Hébuterne a paixão
derrama-se quando tua ausência se prende às veias
prontas a esvaziarem-se do rubro ouro
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perco-te no sono das marítimas paisagens
estas feridas de barro e quartzo
os olhos escancarados para a infindável água
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com teu sabor de açúcar queimado em redor da noite
sonhar perto do coração que não sabe como tocar-te
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Al Berto in Salsugem
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27.10.09

O céu dos dias bons

céu sobre o Sado, 25 Outubro 2009

20.10.09

Fall-Winter 2010


Uns Práticos outros Contemplativos

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Têm sentido de humor os que têm sentido prático. Quem descuida a vida, embevecido numa ingénua contemplação (e todas as contemplações são ingénuas), não vê as coisas com desprendimento, dotadas de livre, complexo e contrastante movimento, que forma a essência da sua comicidade. O típico da contemplação é, pelo contrário, determo-nos no sentimento difuso e vivaz que surge em nós ao contacto com as coisas. É aqui que reside a desculpa dos contemplativos: vivem em contacto com as coisas e, necessariamente, não lhes sentem as singularidades e características; sentem-nas, pura e simplesmente.
Os práticos - paradoxo - vivem distantes das coisas, não as sentem, mas compreendem o mecanismo que as faz funcionar. E só ri de uma coisa quem está distante dela. Aqui está, implícita, uma tragédia: habituamo-nos a uma coisa afastando-nos dela, quer dizer, perdendo o interesse. Daqui, a corrida afanosa. Naturalmente, de um modo geral, ninguém é contemplativo ou prático de forma total, mas, como nem tudo pode ser vivido, resta sempre, mesmo aos mais experimentados, o sentimento de qualquer coisa.
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Cesare Pavese in O Ofício de Viver

19.10.09

Os dias bons


Ninguém Sabe Coisa Alguma

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Porque nós não sabemos, pois não? Toda a gente sabe. O que faz as coisas acontecerem da maneira que acontecem? O que está subjacente à anarquia da sequência dos acontecimentos, às incertezas, às contrariedades, à desunião, às irregularidades chocantes que definem os assuntos humanos? Ninguém sabe, professora Roux. «Toda a gente sabe» é a invocação do lugar-comum e o inimigo da banalização da experiência, e o que se torna tão insuportável é a solenidade e a noção da autoridade que as pessoas sentem quando exprimem o lugar-comum. O que nós sabemos é que, de um modo que não tem nada de lugar-comum, ninguém sabe coisa nenhuma. Não podemos saber nada. Mesmo as coisas que sabemos, não as sabemos. Intenção? Motivo? Consequência? Significado? É espantosa a quantidade de coisas que não sabemos. E mais espantoso ainda é o que passa por saber.
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Philip Roth in A Mancha Humana


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6.10.09

Amália

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Que posso eu dizer de ti cuja voz é grandeza sublime? Essa que habita o espaço entre o abismo e o céu incalculável e que se abre como uma grande asa de luz. Que posso eu dizer de ti senão ouvir-te e dessa forma ouvir o mar, o tempo, o sol nas janelas, o silêncio, as sombras?
És hoje aquilo que deste e no esplendor da tua voz mora o que todos são e serão até ao fim dos tempos.
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Grito


Letra de Amália Rodrigues / Música de Carlos Gonçalves

27.9.09

Tudo o que peço aos políticos



" Tudo o que peço aos políticos é que se contentem
em mudar o mundo sem começar por mudar a verdade."

- Jean Paulhan -

23.9.09

Os Dias Bons

em resposta ao leitor:
estes foram os dias bons, quando tudo estava em aberto
e havia no ar a esperança de uma nova vida que nascia
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Correio dos leitores: "Os Dias Bons"

recebido por mail de Manuel Pereira

18.9.09

Lei Seca

Pedro Mexia voltou. Já tinha saudades de textos como este .

17.9.09

A Vitalidade de uma Nação

pintura de António Dacosta

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Uma nação vive, próspera, é respeitada, não pelo seu corpo diplomático, não pelo seu aparato de secretarias, não pelas recepções oficiais, não pelos banquetes cerimoniosos de camarilhas: isto nada vale, nada constrói, nada sustenta; isto faz reduzir as comendas e assoalhar o pano das fardas - mais nada. Uma nação vale pelos seus sábios, pelas suas escolas, pelos seus génios, pela sua literatura, pelos seus exploradores científicos, pelos seus artistas. Hoje, a superioridade é de quem mais pensa; antigamente era de quem mais podia: ensaiavam-se então os músculos como já se ensaiam as ideias.
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Eça de Queirós
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16.9.09

Os Dias Bons

Alain Delon & Romy Schneider
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10.9.09

Os Justos

Vicent Van Gogh, Jardim dos Poetas, 1888
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Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acarinha um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo.
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Jorge Luis Borges in A Cifra

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9.9.09

Os dias bons

Natalie Wood and Steve McQueen, 1963

8.9.09

A Nossa Arte

Caspar David Friedrich
A arte de desenvolver os pequenos motivos para nos decidirmos a realizar as grandes acções que nos são necessárias. A arte de nunca nos deixarmos desencorajar pelas reacções dos outros, recordando que o valor de um sentimento é juízo nosso, pois seremos nós a senti-lo e não os que assistem. A arte de mentir a nós próprios, sabendo que estamos a mentir. A arte de encarar as pessoas de frente, incluindo nós próprios, como se fossem personagens de uma novela nossa. A arte de recordar sempre que, não tendo nós qualquer importância e não tendo também os outros qualquer espécie de importância, nós temos mais importância que qualquer outro, simplesmente porque somos nós. A arte de considerar a mulher como um pedaço de pão: problema de astúcia. A arte de mergulhar fulminante e profundamente na dor, para vir novamente à tona graças a um golpe de rins. A arte de nos substituirmos a qualquer um, e de saber, portanto, que cada pessoa se interessa apenas por si própria. A arte de atribuir qualquer dos nossos gestos a outrem, para verificarmos imediatamente se é sensato. A arte de viver sem a arte. A arte de estar só.
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Cesare Pavese in O Ofício de Viver

Amar é Raro

Amar é dar, derramar-me num vaso que nada retém e sou um fio de cana por onde circulam ventos e marés. Amar é aspirar as forças generosas que me rodeiam, o sol e os lumes, as fontes ubérrimas que vêm do fundo e do alto, água e ar, e derramá-las no corpo irmão, no cadinho que tudo guarda e transforma para que nada se perca e haja um equilíbrio perfeito entre o mesmo e o outro que tu iluminas. Dar tudo ao outro, dar-lhe tanta verdade quanta ele possa suportar, e mais e mais; obrigar o outro a elevar-se a um grau superior de eminência, fulguração, mas não tanto que o fira ou destrua em overdose que o leve a romper o contrato — o difícil equilíbrio dos amantes! Amar é raro porque poucos somos capazes de respirar as vastas planícies com a metade do seu pulmão; e amar é raro porque poucos aceitam a presença do seu gémeo, a boca insaciável de um irmão que todos os dias o vento esculpe e destrói.

Casimiro de Brito in Arte da Respiração

20.8.09

Florir


O florir do encontro casual
Dos que hão sempre de ficar estranhos...
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.O único olhar sem interesse recebido no acaso
Da estrangeira rápida ...

.O olhar de interesse da criança trazida pela mão
Da mãe distraída...

. As palavras de episódio trocadas
Com o viajante episódico
Na episódica viagem ...

.Grandes mágoas de todas as coisas serem bocados...
Caminho sem fim... .

Álvaro de Campos in Poemas

17.8.09

Estamos sempre ligados a algo maior

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Estamos sempre ligados a algo maior, ao conjunto de tudo, a elos que se entrecruzam infinitamente. Em cada simples gesto, em cada pensamento, em cada olhar, em cada palavra ou silêncio ligamo-nos e influenciamos o pulsar do todo.
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10.8.09

Os dias bons

Sophia de Mello Breyner


Os Caminhos Insondáveis do Progresso da Humanidade

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O progresso não é necessário por uma necessidade metafísica: pode-se dizer apenas que muito provavelmente a experiência acabará por eliminar as falsas soluções e por se livrar dos impasses. Mas a que preço, por quantos meandros? Não se pode nem mesmo excluir, em princípio, que a humanidade, como uma frase que não se consegue concluir, fracasse no meio do caminho. Decerto o conjunto dos seres conhecidos pelo nome de homens e definidos pelas características físicas que se conhecem tem também em comum uma luz natural, uma abertura ao ser que torna as aquisições da cultura comunicáveis a todos eles e somente a eles. Mas esse lampejo que encontramos em todo o olhar dito humano é visto tanto nas formas mais cruéis do sadismo quanto na pintura italiana. É justamente ele que faz com que tudo seja possível da parte do homem, e até o fim.

Maurice Merleau-Ponty, in Signos

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4.8.09

8 / Dias Altânticos - Revival


O revivalismo é quase sempre inglório, principalmente quando se tenta viver o que já foi vivido. Mas quando se recorda, o cérebro não faz a distinção entre passado e presente, vive-se, por momentos, algures num espaço-pensamento, o que já se viveu.
Quem esteve na festa dos Dias Atlânticos na passada sexta-feira, não viveu um revivalismo nem uma simples recordação, viveu um encontro, um reencontro. Viveu a experiência do tempo, que pode ser tão abstrata quanto concreta. A música, o espaço e as pessoas reencontraram-se num espaço já diferente para todos. Todos sentimos que era um novo espaço, um novo tempo. Mas as pessoas e sua vontade de celebrar os bons momentos da vida foi o que prevaleceu numa noite memorável. São elos que se refazem e descobrem na partilha de coisas simples e mágicas como a noite.
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Parabéns à organização e aos DJ's ... que continuam um charme, principalmente um certo rapaz grisalho de camisa branca :)
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8 / DIAS ATLÂNTICOS Revival

Naquela noite, raras foram as músicas que não davam vontade de dançar, mas esta foi a que mais gostei de ouvir

27.7.09

Os dias bons

Bob Dylan e Joan Baez

26.7.09

Dylan, o Poeta


Go ahead and talk about him because he makes you doubt,
Because he has denied himself the things that you can't live without.
Laugh at him behind his back just like the others do,
Remind him of what he used to be when he comes walkin' through.

He's the property of Jesus
Resent him to the bone
You got something better
You've got a heart of stone

Stop your conversation when he passes on the street,
Hope he falls upon himself, oh, won't that be sweet
Because he can't be exploited by superstition anymore
Because he can't be bribed or bought by the things that you adore.

He's the property of Jesus
Resent him to the bone
You got something better
You've got a heart of stone

When the whip that's keeping you in line doesn't make him jump,
Say he's hard-of-hearin', say that he's a chump.
Say he's out of step with reality as you try to test his nerve
Because he doesn't pay no tribute to the king that you serve.

He's the property of Jesus
Resent him to the bone
You got something better
You've got a heart of stone'cause

Say that he's a loser Ôcause he got no common sense
Because he don't increase his worth at someone else's expense.
Because he's not afraid of trying, 'cause he don't look at you and smile,
'Cause he doesn't tell you jokes or fairy tales, say he's got no style.

He's the property of Jesus
Resent him to the bone
You got something better
You've got a heart of stone

You can laugh at salvation, you can play Olympic games,
You think that when you rest at last you'll go back from where you came.
But you've picked up quite a story and you've changed since the womb.
What happened to the real you, you've been captured but by whom?

He's the property of Jesus
Resent him to the bone
You got something better
You've got a heart of stone

PROPERTY OF JESUS, Poema de Bob Dylan , 1981

25.7.09

Um momento especial

fotografia de Mário Pires
No dia 22 de Julho, a abertura do Festival de Músicas do Mundo - 2009, no Castelo de Sines, foi feita por TRILHOS - Novos caminhos da guitarra portuguesa .
A guitarra portuguesa aventura-se e muito bem por novos caminhos. Nunca diríamos que se sintonizaria tão bem com as percussões, o contrabaixo e o piano mantendo intacto o seu belo trinar. Excelente concerto este em que o sineense Rui Vinagre (na foto) eternizou um momento com a entrega e o talento de sempre.

22.7.09

Os Dias Bons

Paul Newman e Joanne Woodward

20.7.09

Walking on the Moon

Neil Armstrong, Buzz Aldrin and Michael Collin

um pequeno passo

Os grandes feitos resultam de pequenos passos.

19.7.09

Encontrar o nosso lugar


Queremos encontrar o nosso lugar, uma forma de vida que se coadune com a nossa forma de ver o mundo. Queremos encontrar espaço para construir essa forma de vida. Queremos encontrar tempo para o que é essencial. Queremos encontrar meios para podermos contribuir para a melhoria do mundo de todos. Queremos encontrar o amor e preservar a amizade. Queremos ser melhores. Queremos viver num mundo melhor.
Porque todos queremos isto, o mundo de cada pessoa, independentemente do faça e das suas aspirações pessoais, tem, obrigatoriamente, de se harmonizar com a ideia de que todos têm esse direito.
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18.7.09

Casticais

Nao quero mais viver do pouco
Do quem sabe sera um dia quem sabe
Viver for a do ar ter paz no ato
Viver por prazer, estar ao lado de quem se quer ver

Fazer um prato com casticais
Cabelo molhado de fato enxugar o passado
Embalar o seu corpo inteiro num trato de te prender

Pelo impulse, desejo involuntario
No nosso convivio carro quadro aquario
Piano, video noite, Mercado, o nosso filme seria amor

Night, night, night inside your eyes
Pessoas sozinhas e eu esperando voce, so voce
Night, night, night inside your eyes
Pessoas passando e eu esperando voce, por voce

Where are you now, where are you
Night night

12.7.09

O mundo é de quem não sente

O mundo é de quem não sente. A condição essencial para se ser um homem prático é a ausência de sensibilidade. A qualidade principal na prática da vida é aquela qualidade que conduz à acção, isto é, a vontade. Ora há duas coisas que estorvam a acção - a sensibilidade e o pensamento analítico, que não é, afinal, mais que o pensamento com sensibilidade. Toda a acção é, por sua natureza, a projecção da personalidade sobre o mundo externo, e como o mundo externo é em grande e principal parte composto por entes humanos, segue que essa projecção da personalidade é essencialmente o atravessarmo-nos no caminho alhieo, o estorvar, ferir e esmagar os outros, conforme o nosso modo de agir.
Para agir é, pois, preciso que nos não figuremos com facilidade as personalidades alheias, as suas dores e alegrias. Quem simpatiza pára. O homem de acção considera o mundo externo como composto exclusivamente de matéria inerte - ou inerte em si mesma, como uma pedra sobre que passa ou que afasta do caminho; ou inerte como um ente humano que, porque não lhe pôde resistir, tanto faz que fosse homem como pedra, pois, como à pedra, ou se afastou ou se passou por cima.

Fernando Pessoa, in O Livro do Desassossego

6.7.09

É tempo de Sophia ... a eternidade luminosa


Era o tempo das amizades visionárias
Entregues à sombra à luz à penumbra
E ao rumor mais secreto das ramagens
Era o tempo extático das luas
Quando a noite se azulava fabulosa e lenta
Era o tempo do múltiplo desejo e da paixão
Os dias como harpas ressoavam
Era o tempo de oiro das praias luzídias
Quando a fome de tudo se acendia

Sophia de Mello Breyner in O Búzio de Cós


O importante é o que fazemos

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O que sentimos e pensamos tem sempre uma grandeza relativa, o importante é o que nós fazemos. É a acção que se desdobra, que cria, que vai longe, que dá o exemplo.
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1.7.09

A Obrigação da Verdade


Quando olhamos um espelho, pensamos que a imagem à nossa frente é exacta. Mas basta movermo-nos um milímetro para a imagem se alterar. Aquilo que estamos realmente a ver é uma gama infindável de reflexos. Mas às vezes o escritor tem de quebrar o espelho — porque é do outro lado do espelho que a verdade nos encara. Estou convencido de que, apesar dos enormes obstáculos existentes, há uma obrigação crucial que recai sobre todos nós enquanto cidadãos: de com uma determinação intelectual inflexível, inabalável e feroz definir a verdade autêntica das nossas vidas e das nossas sociedades. É de facto uma obrigação imperativa. Se essa determinação não se incorporar na nossa visão política, não tenhamos esperança de restaurar aquilo que já quase se perdeu para nós — a dignidade do homem.
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Harold Pinter, in Discurso de Aceitação do Prémio Nobel, 2005

30.6.09

Peace

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"You cannot find peace by avoiding life"

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23.6.09

Notas da Vida

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1. Cada um de nós não tem de seu nem de real senão a sua própria individualidade.
2. Aumentar é aumentar-se.
3. Invadir a individualidade alheia é, além de contrário ao princípio fundamental, contrário (por isso mesmo também) a nós mesmos, pois invadir é sair de si, e ficamos sempre onde ganhamos (Por isso o criminoso é um débil, e o chefe um escravo.) (O verdadeiro forte é um despertador, nos outros, de energias deles. O verdadeiro mestre é um mestre de o não acompanharem.)
4. Atrair os outros a si é, ainda assim, o sinal da individualidade.
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Fernando Pessoa, in Reflexões Pessoais

22.6.09

O Bem e a ideia de infinito

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Ao contrário do mal que não nos dá qualquer libertação, a ideia do bem, de viver algo de bom dá-nos sempre a ideia de infinitude, de desdobramento. A partir daquele "bem" que sentimos queremos construir, queremos criar, projectar mais coisas boas. E parece não ter fim esse intento que tocado pela luz vibrante é como leque que abraça e alenta essa coisa infinita que nos habita. Talvez por isso é que a ideia de felicidade é inseparável da ideia de infinito, de superação da matéria.
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18.6.09

HOME, um documentário maravilhoso

.para visionar Aqui
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A Ambição de Eternidade

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Fazer... A memória dos deuses, agora que se nos desfez como forma de um refúgio, de uma justificação, reinventa em nós o sonho do seu poder: criar é afirmar no homem o sonho de divinização. Criar um império, uma obra de arte, um filho, um arranjo de saber, um novo apara-lápis... E à ambição de impor ao mundo uma nova ordem, ao desejo angustiado de nos furtarmos a um domínio universal, de nos afirmarmos únicos, nós juntamos a pequena ambição de sermos eternos.
Como se a nossa vida não fosse irredutível e o objecto que se desprende das nossas mãos, comparticipando da nossa presença, do calor do nosso sangue, comparticipasse também da nossa consciência... Mas a pessoa que somos e sabemos, a presença de nós é em nós que nos morre.
E depois, meu amigo, enquanto temos um instrumento na mão, não sabemos que temos um instrumento na mão... Todo o gesto, enquanto tal, enquanto se executa, limita-se em si mesmo, esquece a sua origem: toda a acção trai a força que a gerou, porque ela é em si própria um princípio e um fim.
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Vergílio Ferreira, in Carta ao Futuro

16.6.09

15.6.09

Os Amantes não Contam Nada de Novo uns aos Outros

Les Amants, pintura de René Margritte (1898-1967)

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"A alma só acolhe o que lhe pertence; de certo modo, ela já sabe de antemão tudo aquilo por que vai passar. Os amantes não contam nada de novo uns aos outros, e para eles também não existe reconhecimento. De facto, o amante não reconhece no ser que ama nada a não ser que é transportado por ele, de modo indescritível, para um estado de dinamismo interior. E reconhecer uma pessoa que não ama significa para ele trazer o outro ao amor como uma parede cega sobre a qual cai a luz do Sol. E reconhecer uma coisa inerte não significa identificar os seus atributos uns a seguir aos outros, mas sim que um véu cai ou uma fronteira se abre, e nenhum deles pertence ao mundo da percepção. Também o inanimado, desconhecido como é, mas cheio de confiança, entra no espaço fraterno dos amantes. A natureza e o singular espírito dos amantes olham-se nos olhos, e são as duas direcções de um mesmo agir, um rio que corre em dois sentidos, um fogo que arde em dois extremos.
E então é impossível reconhecer uma pessoa ou uma coisa sem relação connosco próprios, pois o acto de tomar conhecimento toma das coisas qualquer coisa; mantêm a forma, mas parecem desfazer-se em cinzas por dentro, algo delas se evapora, e o que resta é apenas a sua múmia. É por isso também que não existe verdade para os amantes; seria um beco sem saída, um fim, a morte do pensamento que, enquanto estiver vivo, se assemelha à fímbria arfante de uma chama, onde se abraçam a luz e a escuridão. Como pode uma coisa iluminar onde tudo é luz? Para quê a esmola do que é seguro e inequívoco onde tudo é plenitude? E como podemos ainda desejar alguma coisa só para nós, ainda que seja aquilo que amamos, depois da experiência que nos diz que os amantes não se pertencem, mas têm de se dar em oferenda a tudo o que vem ao seu encontro e se oferece aos seus olhares entrelaçados?"
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Robert Musil, in O Homem sem Qualidades
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5.6.09

O Medo De Nós Próprios

Alfred Hitchcock dando indicações a Kim Novak durante as filmagens de Vertigo (1958)
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"Acredito que se um homem vivesse a sua vida plenamente, desse forma a cada sentimento, expessão a cada pensamento, realidade a cada sonho, acredito que o mundo beneficiaria de um novo impulso de energia tão intenso que esqueceríamos todas as doenças da época medieval e regressaríamos ao ideal helénico, possivelmente até a algo mais depurado e mais rico do que o ideal helénico. Mas o mais corajoso homem entre nós tem medo de si próprio. A mutilação do selvagem sobrevive tragicamente na autonegação que nos corrompe a vida. Somos castigados pelas nossas renúncias. Cada impulso que tentamos estrangular germina no cérebro e envenena-nos. O corpo peca uma vez, e acaba com o pecado, porque a acção é um modo de expurgação. Nada mais permanece do que a lembrança de um prazer, ou o luxo de um remorso. A única maneira de nos livrarmos de uma tentação é cedermos-lhe. Se lhe resistirmos, a nossa alma adoece com o anseio das coisas que se proibiu, com o desejo daquilo que as suas monstruosas leis tornaram monstruoso e ilegal. Já se disse que os grandes acontecimentos do mundo ocorrem no cérebro. É também no cérebro, e apenas neste, que ocorrem os grandes pecados do mundo."
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Oscar Wilde in O Retrato de Dorian Gray
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3.6.09

Palavras


As crónicas que João Bénard da Costa escreveu para o Público podem ser agora lidas Aqui . Clique na nuvem de palavras e escolha...

Sines, construção do porto

1.6.09

Carminho


também a visitar: http://www.myspace.com/carminhofado

30.5.09

Os dias bons

Marilyn Monroe, praia de Long Island, N.Y., 1949, fotografia de Andre De Dienes

28.5.09

Moon River

Moon River, wider than a mile,
I'm crossing you in style some day.
Oh, dream maker, you heart breaker,
wherever you're going I'm going your way.
Two drifters off to see the world.
There's such a lot of world to see.
We're after the same rainbow's end-
waiting 'round the bend,
my huckleberry friend,
Moon River and me.

Letra de Johnny Mercer, Música de Henry Mancini

Silêncio

pintura de Joseph M. W. Turner, Sun Setting over a Lake, 1840
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Às vezes pesa o silêncio como uma grande pedra que entrou na nossa casa e nos deixa sem espaço. Mas sabemos que aquela pedra é talvez o que está mais próximo de nós, naquele momento, como uma extensão. Nesses dias, todos os barulhos, todas as vozes, todas as músicas nos agridem. Tentamos recordar os dias em que o silêncio é uma grande benção e o nosso peito está livre e desimpedido; esses dias em que o respirar nos une a qualquer coisa maior, que flui. Tentamos recuperar espaço, no nosso abrigo, até que lá fora parem os sons da guerra. E haverá uma manhã em que o dia conseguirá entrar em nós como uma claridade para que prossigamos lá fora como que renascidos, prontos para começar a partir de um chão-zero.
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27.5.09

Os dias bons

na fotografia, Rita Hayworth



26.5.09

Deslizar tranquilamente


A morte é apenas uma consequência da nossa maneira de viver. Vivemos de pensamento em pensamento, de sensação em sensação. Os nossos pensamentos e as nossas sensações não correm tranquilamente como um rio, «ocorrem-nos», caem em nós como pedras. Se te observares bem, sentirás que a alma não é algo que vai mudando de cor em gradações progressivas, mas que os pensamentos saltam dela como algarismos saindo de um buraco negro. Neste momento tens um pensamento ou uma sensação, e no seguinte aparece outro, diferente, como que saído do nada. Se deres atenção, até podes sentir o instante entre dois pensamentos, quando tudo se torna negro. Esse instante, uma vez apreendido, é para nós o mesmo que a morte.
Pois a nossa vida resume-se a definir marcos e a saltar de um para o outro, diariamente, passando por milhares de instantes de morte. De certo modo, vivemos apenas nos pontos de repouso. É por isso que temos esse medo ridículo da morte irreversível, porque ela é, em absoluto, o lugar sem marcos, o abismo insondável em que caímos. Na verdade, ela é a negação absoluta daquela maneira de viver. Mas isto só é assim quando visto da perspectiva desta vida, apenas para aqueles que não aprenderam a sentir-se de outro modo, a não ser de instante em instante. Chamo a isso o mal saltitante, e o segredo está apenas em superá-lo. Temos de despertar em nós a sensação de que a vida é algo que desliza tranquilamente. No momento em que isso acontecer, estamos tão próximos da morte como da vida. Já não vivemos - à luz dos nossos conceitos terrenos -, mas também já não podemos morrer, pois com a vida superámos também a morte. É o momento da imortalidade, o momento em que a alma sai da estreiteza do nosso cérebro para entrar nos maravilhosos jardins da sua vida.

Robert Musil, in O Jovem Torless

25.5.09

Um lugar assim

Talvez todos queiramos um dia viver um amor sem tempo e sem lugar definidos. Um amor sem passado nem futuro, onde cada momento de encontro transborde vida, exaltação. Um amor que não pergunte, nem responda. Um amor que seja apenas um breve voo, a inconstância das dunas, suave e tórrido como o sol. Talvez nesse lugar indefinido se cumpra apenas a essência das coisas, ou seja não as rosas, mas a ideia e o perfume das rosas, não o oceano, mas a força e a espuma do mar. O mais difícil é aceitar que essa exuberância ter-se-á de se viver como quem vive uma estação e não mais do que isso, senão tudo se concretiza e perde.

As novas espécies



As novas espécies...