MANOEL DE BARROS, Poeta do Pantanal
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Borboleta, pardal, assobio, vento. E também rã, tarde, luar, peixe são palavras-essências do “poeta das pequenas coisas”. Manoel de Barros é um alquimista. A partir do quase nada, inventa a grandeza do infinito. Tudo é importante para a poesia deste escritor, principalmente as coisas sem importância: “As coisas jogadas fora/têm grande importância/- como um homem jogado fora”. A ave, o lixo, “as pedras que cheiram”, “um homem que possui um pente” serve para a sua poesia.
Quando se lê Manoel de Barros, tem-se a sensação de se crescer ao contrário. Cresce-se para uma criança que descobre a natureza em transfiguração: “O delírio do verbo estava no começo, lá onde a/criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos". Esta linguagem, completamente nova, obriga a esquecer tudo o que se aprendeu, a ver de novo: “Desaprender oito horas por dia ensina os princípios”. O mundo torna-se tão claro, como pode ser clara a manhã, a água, o nascimento. Escuta-se o som primordial, entende-se a treva como se entende a árvore ou rio. Tudo faz parte da mesma natureza, tudo está equilibrado, no mesmo caos com sentido. Há quem diga que natureza nunca mais foi a mesma depois de passar pelos seus poemas. O Pantanal, como o mundo inteiro, estão lá , numa paz breve e eterna.
Nasceu em 1916, no Beco da Marinha, na beira do Rio Cuiabá. Mais tarde, fixou-se em Corumbá, Mato Grosso. Foi sempre um homem discreto. Viajou, estudou o mundo e refugiou-se de novo no Pantanal, em Campo Grande. Manoel de Barros é advogado, fazendeiro e, claro, poeta. Poemas concebidos sem Pecado, o primeiro livro que publicou (1937), foi concebido artesanalmente por 20 amigos, numa tiragem de 20 exemplares e mais um, que ficou com ele. Em 1960, a Academia Brasileira das Letras atribuiu o Prémio Orlando Dantas à sua obra Compêndio para Uso dos Pássaros e, em 1998, recebeu o Prémio Nacional do Ministério da Cultura. É comparado a Guimarães Rosa pela grandeza do seu trabalho e, sobretudo, pelo seu gosto de inventar palavras, de “enlouquecer os verbos” e de alterar o sentido das coisas: “O ocaso me ampliou para formiga”; “ Escuto a cor dos peixes”; “Sou muito comum como pedras”.
Cronologicamente pertence à geração de 45, embora o tenha recusado sempre. Defende que tal como ele não se sente pertença de nenhuma geração, também outros poetas que admira não o são: “Em que geração podemos classificar Rimbaud?”. Refere sempre este poeta francês nas suas raras entrevistas. Sabe-se que o conhecimento da sua poesia, foi determinante para o seu trabalho: despertou-o para a procura de uma linguagem própria. Curiosamente, também menciona os escritos de Padre António Vieira, que o estimularam para a ressonância das frases, como se cada frase fosse uma unidade rítmica.
Só muito recentemente podemos encontrar a poesia de Manoel de Barros nas nossas livrarias. São sobretudo edições da Editora brasileira Record. As Edições Quasi, Editora de Vila Nova de Famalicão, em Outubro do ano passado, pôs fim a esta ausência editorial, publicando O Encantador de Palavras, uma pequena antologia de 30 poemas do autor. Este livro conta com um excelente prefácio do jovem poeta Valter Hugo Mãe, que a certa altura nos diz: “Não há nada na sua obra que se afaste da perfeição (...) Manoel é poeta com jeito para deus, sabe criar um mundo onde possamos viver”. Deixem-se tocar pela poesia que “apalpa as intimidades do mundo”.
Quando se lê Manoel de Barros, tem-se a sensação de se crescer ao contrário. Cresce-se para uma criança que descobre a natureza em transfiguração: “O delírio do verbo estava no começo, lá onde a/criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos". Esta linguagem, completamente nova, obriga a esquecer tudo o que se aprendeu, a ver de novo: “Desaprender oito horas por dia ensina os princípios”. O mundo torna-se tão claro, como pode ser clara a manhã, a água, o nascimento. Escuta-se o som primordial, entende-se a treva como se entende a árvore ou rio. Tudo faz parte da mesma natureza, tudo está equilibrado, no mesmo caos com sentido. Há quem diga que natureza nunca mais foi a mesma depois de passar pelos seus poemas. O Pantanal, como o mundo inteiro, estão lá , numa paz breve e eterna.
Nasceu em 1916, no Beco da Marinha, na beira do Rio Cuiabá. Mais tarde, fixou-se em Corumbá, Mato Grosso. Foi sempre um homem discreto. Viajou, estudou o mundo e refugiou-se de novo no Pantanal, em Campo Grande. Manoel de Barros é advogado, fazendeiro e, claro, poeta. Poemas concebidos sem Pecado, o primeiro livro que publicou (1937), foi concebido artesanalmente por 20 amigos, numa tiragem de 20 exemplares e mais um, que ficou com ele. Em 1960, a Academia Brasileira das Letras atribuiu o Prémio Orlando Dantas à sua obra Compêndio para Uso dos Pássaros e, em 1998, recebeu o Prémio Nacional do Ministério da Cultura. É comparado a Guimarães Rosa pela grandeza do seu trabalho e, sobretudo, pelo seu gosto de inventar palavras, de “enlouquecer os verbos” e de alterar o sentido das coisas: “O ocaso me ampliou para formiga”; “ Escuto a cor dos peixes”; “Sou muito comum como pedras”.
Cronologicamente pertence à geração de 45, embora o tenha recusado sempre. Defende que tal como ele não se sente pertença de nenhuma geração, também outros poetas que admira não o são: “Em que geração podemos classificar Rimbaud?”. Refere sempre este poeta francês nas suas raras entrevistas. Sabe-se que o conhecimento da sua poesia, foi determinante para o seu trabalho: despertou-o para a procura de uma linguagem própria. Curiosamente, também menciona os escritos de Padre António Vieira, que o estimularam para a ressonância das frases, como se cada frase fosse uma unidade rítmica.
Só muito recentemente podemos encontrar a poesia de Manoel de Barros nas nossas livrarias. São sobretudo edições da Editora brasileira Record. As Edições Quasi, Editora de Vila Nova de Famalicão, em Outubro do ano passado, pôs fim a esta ausência editorial, publicando O Encantador de Palavras, uma pequena antologia de 30 poemas do autor. Este livro conta com um excelente prefácio do jovem poeta Valter Hugo Mãe, que a certa altura nos diz: “Não há nada na sua obra que se afaste da perfeição (...) Manoel é poeta com jeito para deus, sabe criar um mundo onde possamos viver”. Deixem-se tocar pela poesia que “apalpa as intimidades do mundo”.
(crónica publicada no Jornal O Sudoeste )
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