3.7.11

Quem ainda tem tempo e espaço em si para ler poemas como este?

WUTHERING HEIGHTS

Os horizontes apertam-me como feixes,
encurvados e retorcidos mas sempre instáveis.
Tocados por um fósforo, talvez pudessem aquecer-me,
e as suas finas varas queimar
ao de leve o ar cor de laranja
antes de as distâncias que os prendem se evaporarem,
enchendo o pálido céu de uma cor mais sólida.
Mas apenas se dissolvem, dissolvem-se
como um conjunto de promessas, enquanto dou um passo mais.

Não há vida para lá das ervas dos montes
ou do coração das ovelhas, e o vento
irrompe como o destino, obrigando tudo
a vergar-se na mesma direcção.
Posso senti-lo a tentar
encurralar o meu lume.
Se eu der às raízes da urze
demasiada atenção, pode convidar-me
a purificar junto dela os meus ossos.

As ovelhas sabem onde estão,
pastando nas suas nuvens de lã enlameadas,
cinzentas como o dia,
as pegadas pretas das mais pequenas levam-me para casa.
É como ser expedido por correio para o espaço,
uma mensagem breve e tonta.
Ficam por ali disfarçados de avós,
com as suas perucas encaracoladas e os dentes amarelos
e balidos altos e marmóreos.

Chego abrindo sulcos e afastando a água
não limpa como a solidão
que corre pelos meus dedos,
os degraus que nada tinham enchem-se de erva e mais erva;
os dintéis e os peitories saíram dos gonzos.
Das pessoas o ar só
lembra algumas sílabas esquisitas.
Recita-as num lamento:
pedra negra, pedra negra.

O céu encosta-se a mim, a mim, o único ser de pé
entre tanta coisa horizontal,
As ervas abanam furiosamente.
São demasiado delicadas
para viver em tal companhia;
A escuridão aterroriza-as.
Agora, nos vales estreitos
e negros como porta-moedas, a casa acende
raios de luz como se fossem dinheiro trocado.

Sylvia Plath (27-11-1932 /11-02-1963)

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