Avisto a Europa deste tapete à beira-mar, desta praia ocidental, esse luminoso arquétipo português e digo: a Europa é um campo de batalha, um lugar de guerra, frio e solidão. A presença e a notícia da morte foi trazida até aqui, ao grande Atlântico. Foi sobre as suas águas que se afundou a angústia mais pesada e se dispersou o sangue da culpa europeia. Viro-me para o oceano que me parece sempre novo e penso que a Europa é um lugar velho, ou melhor tudo o que é humano lembra a velhice, o tempo, a história. O profundo inútil. Tudo o que é humano tem aqui um passado carregado de inteligência, rancor, crime e por isso vergonha e insolência. Há um corredor com livros a perder de vista, romances, milhões de poemas, milhares de pinturas, iluminuras, há muros e casas museu que lembram a nossa convicção, instalações de arte que lembram o nosso crime, o horror. Milhares de formas de arte que deixam transparecer o que pensámos, o que sofremos e, no entanto, aqui chegados parece que nada disto nos serve. Como é que com tanto pensamento, tanta sabedoria chegámos aqui, a este impasse? É o fim de uma era. Pensa-se que o mundo é agora dos nossos filhos, dos que se inspiraram nas nossas formas, mas o mundo de hoje não é de ninguém, é do transitório, do inesperado. Apesar do dinheiro ainda nos alimentar, aqui e em tudo o mundo, uma vaga sensação de segurança, a ansiedade cresce no ocidente. A antiga Europa dos rios e dos bosques, ondulada de verde e neve é um palácio abandonado e há notícia que Zeus não voltará à praia.
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