6.11.11

Balada para um Homem na Multidão


Este homem que entre a multidão

enternece por vezes destacar

é sempre o mesmo aqui ou no japão

a diferença é ele ignorar.



Muitos mortos foram necessários

para formar seus dentes um cabelo

vai movido por pés involuntários

e endoidece ser eu a percebê-lo.



Sentam-no à mesa de um café

num andaime ou sob um pinheiro

tanto faz desde que se esqueça

que é homem à espera que cresça

a árvore que dá dinheiro.



Alimentam-no do ar proibido

de um sonho que não é dele

não tem mais que esse frasco de vidro

para fechar a estrela do norte.

E só o seu corpo abolido

lhe pertence na hora da morte.



Natália Correia (1923-1993) in O Vinho e a Lira

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