Todos os fins são neutralizados, e os
juízos de valor viram-se uns contra os outros:
Dizemos bom aquele que só
escuta o seu coração, mas também aquele que só escuta o seu dever;
Dizemos
que é bom o indulgente, o pacífico, mas também dizemos que é bom o valente, o
inflexível, o rígido;
Dizemos bom aquele que não pratica a violência contra
si próprio, mas também dizemos bom o herói, que triunfa de si mesmo;
Dizemos
bom o amigo da verdade absoluta, mas também dizemos bom o homem piedoso, que
tudo transfigura;
Dizemos bom aquele que é altaneiro, mas também dizemos bom
o homem piedoso;
Dizemos bom o homem distinto, o aristocrata, mas também
dizemos bom aquele que não é, nem desdenhoso, nem arrogante;
Dizemos bom o
homem cordato, que evita conflitos, mas também dizemos bom o que deseja a luta e
a vitória;
Dizemos bom aquele que quer ser sempre o primeiro, mas também
dizemos bom aquele que não deseja sobrepor-se a ninguém.
Friedrich
Nietzsche in A Vontade de Poder
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