O telescópio não
alcança sequer a tua alma;
Imprecisão exacta
de um instrumento instintivo.
Mas repara: não há
instrumentos instintivos ou máquinas
Espontâneas.
Dois terços do amor
estão na mulher, qualquer
que seja o casal.
As evidências abrem falência
Em todas as áreas;
com o machado homens robustos inventam
Ciências viris.
Indispensáveis, de facto:
ciências meigas já
existem em número
Excessivo.
Monumentos que ocupam
Quilômetros
quadrados são explicados por uma equação de
Dois centímetros.
Repara: a engenharia é a invenção que engordou
As equações
matemáticas. Atirou-as para o Mundo.
Vê as águas, a
sabedoria discreta: ninguém
Constrói uma torre
de observação no centro
Do mar. As águas
não se bebem
Por inteiro, e nem
toda a água é doméstica. o mar não tem
diminutivos. Uma
onda não o é.
Nem o
peixe.
Ciências que
estudem seriamente o riso
Não existem; os
cientistas
Colocam fórmulas em
tabelas: têm gráficos complexos
que explicam a
simplicidade
Do Mundo.
Felizmente, fomos salvos
Pelo
coração.
Certos órgãos
ficaram reféns dos profetas
Antigos, e as
noites passam-se melhor assim.
Indecisões
desconcertantes permitem reinventar a
Monotonia: Trago-te
uma monotonia surpreendente, alguém diz.
Animais mitológicos
bebem água no nada,
E mesmo assim
crescem; tem células resistentes.
Outros animais mais
longos e espessos, mamíferos
De grande porte por
exemplo, evaporam a 36°, reaparecendo
Não carnívora. O
mundo muda,
Não pense que não.
Nem os mamíferos são eternos.
No aeródromo, por
exemplo, o poema atravanca o caminho
De
descolagem
do avião de um
País pouco
habituado a máquinas que subam mais
Alto que um banco
de cozinha. O mundo
Não é injusto, mas
também não é teu mordomo;
Avança e é
só.
Poemas
extraídos da revista POESIA SEMPRE, Num. 26, Ano 14, 2007.
Edição da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
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