11.12.15

Há em toda a beleza uma amargura


Há em toda a beleza uma amargura 
secreta e confundida que é latente 
ambígua indecifrável duplamente 
oculta a si e a quem a olhar obscura 

Não fica igual aos vivos no que dura 
e a não pode entender qualquer vivente 
qual no cabelo orvalho ou brisa rente 
quanto mais perto mais se desfigura 

Ficando como Helena à luz do ocaso 
a língua dos dois reinos não lhe é azo 
senão de apartar tranças ofuscante 

Mas à tua beleza não foi dado 
qual morte a abrir teu juvenil estado 
crescer e nomear-se em cada instante? 

Walter Benjamin, in "Sonetos" 
(Tradução de Vasco Graça Moura)

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