A Primavera mantem-se luminosa, a natureza de Inverno adapta-se.
Também as pessoas deste país se adaptam ao Inverno de um tempo inquietante: parados, resignados, expectantes. Ainda não sabemos qual o caminho para sair deste Inverno e recuperar a esperança. Viemos de uma lenta aridez que definou a audácia, o engenho confiante. Herdámos uma precaridade profunda, transversal, construída no silêncio, no medo. Quisemos ser outra coisa, mudar o destino com ornamentos fáceis, quisemos viver os padrões dos outros, pertencer a uma "modernidade". Quisemos voltar a pertencer ao mundo, regressar aos mapas, mas não caminhámos com os nossos próprios pés. E agora não sabemos como agir neste novo tempo e não ser esperar que passe ... "um dia há-de passar" pensa-se. Mas é preciso fazer mais, é preciso ser criativo. Mesmo num colete de forças, é preciso empreender, fazer, mesmo sabendo que quase todos os lugares estão minados, é preciso fazer ou ajudar quem o queira. A cada dia pensamos no que temos, no que nos resta dos despojos de uma nova forma de guerra. Nunca nos sentimos tão longe de uma guerra mas sabemos que temos que estar lá, a resistir.
Nas ruínas do caminho a Primavera mantem-se luminosa, fabulosa ausente deste tempo.
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