30.4.13

Em Dias de Luz Perfeita e Exacta



Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta, 
Em que as cousas têm toda a realidade que podem ter, 
Pergunto a mim próprio devagar 
Por que sequer atribuo eu 
Beleza às cousas. 
Uma flor acaso tem beleza? 
Tem beleza acaso um fruto? 
Não: têm cor e forma 
E existência apenas. 
A beleza é o nome de qualquer cousa que não existe 
Que eu dou às cousas em troca do agrado que me dão. 
Não significa nada. 
Então por que digo eu das cousas: são belas? 
Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver, 
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens 
Perante as cousas, 
Perante as cousas que simplesmente existem. 
Que difícil ser próprio e não ver senão o visível! 

Alberto Caeiro in O Guardador de Rebanhos - Poema XXVI
(Heterónimo de Fernando Pessoa)

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