Arles, Setembro de 1888, Musée d' Orsay
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Há um poema de Jorge Luis Borges, "A História da Noite", que começa por dizer:
Há um poema de Jorge Luis Borges, "A História da Noite", que começa por dizer:
"Sempre ao longo das suas gerações/ os homens foram construíndo a noite".
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E assim foi. Viemos da profunda e escura noite, encantada e temida. Viemos da noite antiga de archotes e fanais guiando o cansaço dos homens. Viemos da noite da distância habitada pela proximidade do perigo. Da noite longa que se queria breve e da breve que se queria longa. Da noite dos cânticos com rios de prata que iluminavam passos de homens e animais. E fomos construíndo a noite pela Terra inteira, iluminando-a lentamente com uma esperança de fogo e alquimia. Iluminá-mo-la e afastámo-nos da sua pureza, do seu silêncio, um silêncio de estrelas bulindo no firmamento, um silêncio de riquezas. Fomos construíndo a noite, como todas as coisas, à nossa imagem. Trouxemos para dentro da noite o sonho que se move e cintila. Queremos torná-la inesgostável, queremos vivê-la intensamente, queremo-nos viver na noite, procuramo-nos na noite. "E o tempo carregou-a de eternidade".
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