26.2.09

Homens


"(...) Elogiemos a vossas mãos, capazes de pegar em objectos frágeis, de os saber conservar sem os estragar, capazes de carregar com fardos e limpar um caminho afastando os obstáculos pesados. E que tratam o corpo dos homens e dos animais e cuidadosamente conseguem afastar uma dor do mundo. Coisas ilimitadas vos saiem das mãos, algumas boas, que um dia hão-de interceder por vocês.
Também são dignos de admiração quando se inclinam sobre os motores e máquinas e as fazem e entendem e explicam, até que à força de tanto explicar tudo se torna novamente um mistério. Não disseste que se tratava deste princípio e daquela potência? Não foi bonito e bem dito? Ninguém jamais poderá voltar a falar assim de correntes e potências, de magnetes e mecânicas e dos núcleos de todas as coisas.
(...) Ninguém falou assim dos homens, das suas condições de vida, da sua servidão, dos seus bens, das suas ideias, dos homens sobre a terra anterior e uma outra que ainda há-de vir. Era acertado falar assim e reflectir tanto.
(...) Ah, ninguém sabia jogar tão bem como vocês, seus monstros! Foram vocês que inventaram todos os jogos, jogos de números e jogos de palavras, jogos de sonhos e jogos de amor."

Ingeborg Bachmann in Trinta Anos, 1961
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