Dizemos que não procuramos um amor. É mentira, é claro que procuramos o amor. Só que como tememos já não o encontrar, temos a tendência para enumerar aquilo que nos faz falta. Então dizemos que queremos encontrar alguém que se encaixe nas nossas "faltas". Como se a nossa vida não se alterasse nem um cêntimetro e pudessemos ainda preencher os nossos vazios. Mas falaremos nós de pessoas reais ou de um adorno que podemos usar e disfrutar quando nos apetece. É arrepiante pensar que, também no amor, as pessoas possam existir na vida umas das outras no contexto do útil. Quando procuramos encontrar alguém que obedeça às nossas "regras", às nossas "faltas", ao nosso "tipo", estamos a afastar por completo a mais simples linguagem do amor que é a da descoberta e do encontro. Quem tenta encontrar pessoas com o mesmo movimento com que se procura um objecto, já envelheceu para o amor ou nunca soube que ele é coisa viva, inesperada, por isso, simultâneamente volúvel e constante.
Talvez até não sejamos a nós a encontrá-lo, é o amor encontra.
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